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REFLEXÕES SOBRE O "NOVO NORMAL"​

  • Foto do escritor: Keila Vitola Druzian
    Keila Vitola Druzian
  • 29 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 7 de abr. de 2021


O BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento lançou no mês de junho o documento Respostas à COVID-19: ciência, inovação e desenvolvimento produtivo e resume que o sucesso das políticas públicas dos governos na região “será maior onde houver investimentos estratégicos em inovação, produtividade e ciência – área de onde sairá a resposta para esta crise”.


O documento trata como certa a ocorrência de uma nova pandemia e fala diversas vezes sobre o "novo normal" que passaremos a viver por conta da pandemia atual. Nesse novo cenário a digitalização e a ciência possuem uma papel chave, principalmente considerando que teremos que dar uma resposta mais rápida às pandemias que ainda estão por vir.


Como sou amiga de várias pessoas que vivem da academia e outras tantas que estão batalhando em um negócio próprio (eu mesma incluída), sinto que tenho alguma propriedade para falar sobre alguns assuntos abordados no documento, sendo o "novo normal" algo que me intriga bastante e em geral não me convence muito. Mesmo assim, esse documento me apresentou várias tendências reais e me deixou bastante otimista com a direção que vários governos na região estão tomando.


Em um país como o Brasil, onde a ciência vem sendo quase totalmente negligenciada, esse será um desafio imenso. Outro desafio é superar a burocratização excessiva e o ambiente de negócios extremamente hostil para abertura, manutenção e encerramento das empresas. O relatório aponta que medidas relacionadas a ampliação do financiamento e agilidade na aprovação de novos produtos serão determinantes para que no futuro estejamos mais preparados para esse tipo de situação, e com razão.


Por várias vezes, presenciei empresas sofrerem na pele com a demora excessiva para anuência dos órgãos competentes, seja de suas instalações físicas ou de novos produtos, gerando custos que por si só já inviabilizariam várias empresas (principalmente inovadoras) de sequer existirem, ou as forçariam a buscar por investimentos externos ou financiamentos de alto custo para tentar sair do papel.


Agências de fomento existem e estão realizando seu trabalho em certa medida, porém não são o suficiente para viabilizar a existência de uma empresa com toda sua complexidade. A universidade não prepara os pesquisadores para trabalharem nesse ambiente, e mais que tudo, o ambiente deveria ser adequado e não o contrário.


O documento coloca como ponto positivo a mobilização dos governos regionais em digitalizar seus serviços e melhorar o aceso da população a eles, e esperam que esse seja um movimento que continue e se fortaleça no pós-pandemia.


A burocratização desnecessária no Brasil é histórica, provavelmente devido a um traço cultural de sempre tentar dar o famoso “jeitinho” nas coisas e pela institucionalização da corrupção, mas existem incontáveis exemplos de que as fraudes seguem em curso (vide as 67 mil pessoas que receberam o auxilio emergencial sem precisar), por mais burocrático que seja o processo.


Seja qual for a solução, já está mais que comprovado que afastar a tecnologia e exigir que a pessoa esteja pessoalmente em prédios públicos para ter acesso aos serviços do governo não resolve o problema.

O documento sugere o investimento em ciência e o aumento da produtividade e capacidade produtiva respeitando a sustentabilidade ambiental e inclusão social como pilares essenciais do processo. Embora se fale muito pouco sobre o que poderia ser feito nesse sentido, pessoalmente, essa é sempre minha maior preocupação.


Temos mais alguns exemplos na história do mundo para nos ensinar como o esgotamento dos recursos naturais e o empobrecimento da população podem impactar negativamente no desenvolvimento de uma nação. O que vemos são nações que terceirizaram esse impacto para hoje estarem entre as maiores economias do mundo ou que sacrificaram grande parte da sua população e contabilizam em vidas perdidas o sucesso econômico de hoje. Não existe milagre.


Em uma região em que a população vem elegendo governos que colocam o capital acima de todos os outros pilares do crescimento, fica evidente que os desafios são muitos e demandarão um esforço gigante por parte dos governos e muita consciência por parte da população.


Eu realmente gostaria de ver um "novo normal" que incluísse um ambiente de negócios saudável, simplificado e JUSTO acima de tudo, onde a ciência fosse organizada em prol de objetivos comuns e valorizada, e a tecnologia fosse parte permanente da vida de todos, e que a nossa região pudesse crescer unida e de forma sustentável, vejo algumas tendências indo nessa direção, mas ainda tenho muita dificuldade para acreditar que estamos vivendo algo como uma disrupção nesse momento.


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